O Pobre Pentagrama de Deus

Neste sentido, a música motiva um entendimento mais pleno e claro do próprio homem na total plenitude do seu ser. Em algumas interpretações, dizem que o próprio Deus ordenou o mundo musicalmente; o que nos leva a entender que a música está para além de um som agradável aos ouvidos.
Diante de toda herança cultural construída pela música, como compreendê-la em uma perspectiva franciscana? Ou melhor, segundo a espiritualidade franciscana, como a música se desvela? É obvio que este breve opúsculo é apenas um ponto de partida para as resoluções de tais perguntas, pois elas continuam por si mesmas, abertas a novas ressignificações.

Observemos ainda, a grandiosidade e todo o brilhantismo do cântico das criaturas, composto por São Francisco quase no fim de sua vida. Quanta beleza existe em observar em cada uma das criaturas a presença do Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor. Como fermenta o coração e abrilhantam os olhos, uma vida de louvor à Deus, na concretude da nossa existência.
Oh Francisco! Que como música composta pelo próprio Evangelho, faz-se tão atual intercâmbio entre os abismos humanos e o reino celeste. O pobre de Assis é a ponte, a clave e o pentagrama em que Deus se utiliza para compor a profecia franciscana de nossos tempos. Uma profecia de amor, misericórdia, minoridade, altruísmo e gratuidade serviçal. Objetivando um olhar voltado para o retorno ao próprio Cristo pobre e crucificado, cuja penitência pessoal daquele que se coloca neste itinerário é a não desistência de um caminho de santidade.
A partir daí, surgem outros questionamentos para reflexões pessoais: contribuo para que Deus crie em mim, a música que Ele quer compor, ou componho em mim uma canção egocêntrica e desprovida de timbres evangélicos? A resposta por vezes, pode estar no equilíbrio. Sabemos que ora contribuímos de forma harmônica, ora destonamos nas melodias que propomos nesse grande ensaio que é a vida.
Dessa forma, a música em seu sentido mais amplo, não pode ser entendida como algo descartável, que não interfere em nossas vidas e está ali somente como realidade acessória. Tem que nos movimentar e fazer parte de nós! Como que a partir da experiência da contemplação musical, por apenas um momento, curto que seja, o contemplante e o contemplado, se unam partilhando da mesma existência. O sentido da música em nós, e os sentidos da nossa vida ali, revelados nela.
Afinal, não é isso que Francisco fez? O jovem de Assis, pobre pentagrama de Deus, amando o Amado, acolhe o Amor como uma canção de paz e bem que reverbera para além de seu tempo e aplica tal experiência em seu fecundo testemunho cristão. Que motivados por exemplar modelo, possamos nós, fazer a nossa parte e abrir os nossos corações ao Espírito do Senhor e seu santo modo de operar; pois é Deus quem tudo realiza e faz acontecer.
André Salomão - Pré Noviço OFMConv.
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